Friday, September 25, 2009

Encontro de compadres...

Certas coisas jamais muda. Lembro como se fosse hoje minha entrevista de admissão no RH. Uma das perguntas mais capciosas: considera o Brasil um país sério?
"Com todo respeito, Chefes, acham que sou tolo?"

Com essa lembrança em mente e tamborilando entediado no tampo de minha mesa, a sala vazia foi invadida pela campainha do telefone. Era o ramal do Conselheiro Pavi. A reunião de seu grupo de trabalho havia sido agitada, mesmo com a ausência da falante Tábata, em viagem. Ademais compareceram todos os ex-presidentes dos Anos de Chumbo da Ditadura Militar no Brasil, que estendeu-se de 1964 a 1985, quando ocorrreu timidamente a redemocratização.

Chamou-me o Conselheiro ao salão vermelho, onde, ao redor de nova velha mesa de tampo de madeira de sândalo - resultado das recentes reformas, estavam todos os ex-presidentes rindo aos borbotões, exceto, percebi, um. Era João Goulart, o que fora deposto em 01 de abril de 1964. Verdade que Goulart tinha a seu lado (física e ideologicamente), Joaquim Nabuco, Juscelino Kubitscheck e André Rebouças. No outro lado da mesa: Humberto de Alencar Castelo Branco, Artur da Costa e Silva, Aurélio de Lira Tavares, Márcio de Sousa e Melo, Augusto Hamann Rademaker Grünewald - os três últimos da Junta que impediu a posse do vice-presidente Pedro Aleixo - Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo, o derradeiro.

À cabeceira estava sentado o Conselheiro Pavi, já tendo sido servidas as bebidas. À outra cabeceira, livre, sentei-me e pedi logo um dry martini, que esse povo a seco não me desce. Com Pavi em seu grupo de trabalho para preparar surpresas e travessuras de toda sorte a Lulla e seu governo reunido, haviam permitido a presença dos liberais por maldosa e óbvia travessura.

O riso generalizado à direita da mesa devia-se ao fato dos governos civis não terem tido acesso aos arquivos dos governos militares, com a cereja do bolo: uma campanha televisiva para "pedir" que quem possua documentos escondidos, entregue-os. Castelo disse ser mais provável nevar em Crato, cidade que os cearenses consideram sua Campos do Jordão.

Joaquim Nabuco apartou que o governo civil deveria ser mais incisivo e assumir o controle dos aparatos militar e de inteligência. Nova risada generalizada na direita. Disseram que Lulla e seus parlamentares não passam de títeres do PMDB, que numa estranha prestidigitação encampou muitas idéias da antiga Arena.

O caldo para entornar, percebi, chamei a segurança e pedi que a sala fosse esvaziada e o grupo de trabalho reagendado. Mas na próxima sem tripudiar sobre os esquerdistas falecidos. Eles que fossem reclamar no andar de cima. Terminei minha bebida e segui com o Pavi para a The Week (era um sábado). Foi um "esquenta" literalmente dos infernos.

(Mais por vir, apostem!)