Em 10 de setembro de 2009 foi abordado por Brown o caso do criptologista/decifrador de códigos usados pelos alemães para alavancarem com seus submarinos a dianteira da Segunda Guerra pela marinha, Alan Turing. Brown reconheceu que o modo como foi tratado no pós-guerra foi INACREDITÁVEL, especialmente considerando o peso de seu trabalho para a derrota dos alemães.
Alan Turing foi um matemático de formação que se notabilizou pela quebra do código produzido pela engenhoca alemã chamada Enigma. Foi condenado - certo que pelas leis da época - em 1952 por "indecência flagrante". Tinha de optar entre a prisão ou uma primitiva castração química, com hormônio feminino.
Mas a manifestação de Gordon Brown só ocorreu certamente pela mobilização de intelectuais e de um abaixo assinado na internet com milhares de assinaturas.
Abaixo a declaração, em tradução livre:
2009 tem sido ano de profunda reflexão - uma chance para a Inglaterra, como nação, honrar as profundas dívidas que temos com os que nos precederam. Combinação única de datas e eventos comemorativos remexeram em nós os sensos de orgulho e gratidão que caracterizam a experiência britânica. No começo deste ano estive com os Presidentes Sarkozy and Obama, para honrar o serviço militar e sacrifício dos heróis que invadiram as praias da Normandia 65 anos atrás. E na semana passada, marcaram-se os 70 anos transcorridos desde que o Governo Britânico declarou sua disposição de pegar em armas contra o fascismo e declarou o início da Segunda Guerra Mundial. Desta forma, fico tanto satisfeito quanto orgulhoso de que, graças à coalizão de cientistas da computação, historiadores e ativistas LGBT, temos este ano a chance de marcar e celebrar outra contribuição à Inglaterra na luta contra a escuridão da ditadura; a do criptólogo Alan Turing.
Turing foi um matemático assaz brilhante, afamado por seu trabalho que logrou quebrar os códigos alemães "Enigma". Sem exagero afirmo que, sem essa marcante contribuição, a história da Segunda Guerra Mundial poderia ter sido bastante diferente. Ele foi verdadeiramente um desses indivíduos aos quais podemos reputar uma única contribuição capaz de ajudar a virar a maré da guerra. A dívida de gratidão de que é merecedor torna bem mais horripilante, desta forma, que ele tenha sido tratado de forma tão desumana. Em 1952, foi condenado por "flagrante indecência" - na verdade, levado a julgamento por ser gay. Sua sentença - e foi obrigado à encarar entre as escolhas miseráveis disso ou a prisão - foi a castração química através de uma série de injeções de hormônios femininos. Ele suicidou-se apenas dois anos depois.
Milhares de pessoas juntaram-se para demandar justiça para Alan Turing e reconhecimento da abominação que foi sua sentença. Se Turing foi julgado pelas leis da época, e não podemos voltar no tempo, seu tratamento foi claramente atroz e injusto e eu fico feliz de poder dizer o quanto eu e nós estamos arrependidos pelo que lhe aconteceu. Alan e milhares de outros homens gays que foram condenados como ele sob leis homofóbicas foram tratados terrivelmente. Através dos anos milhões de outros passaram a vida temendo tal julgamento.
Pessoalmente me orgulho de que estes dias acabaram e que nos últimos 12 anos este governo tem feito muito para tornar a vida mais justa e igualitária para nossa comunidade LGBT. Este reconhecimento de Alan como uma das vítimas mais famosas da Inglaterra por homofobia é mais um passo na direção da igualdade, e um passo muito atrasado.
Mas acima disso, Alan merece o reconhecimento por sua contribuição à humanidade. Para os entre nós nascidos após 1945, em uma Europa unida, democrática e em paz, é difícil imaginar que nosso continente já foi o teatro da hora mais escura da humanidade. É-nos difícil acreditar na memória de que pessoas pudessem tornar-se tão consumidas pelo ódio - pelo anti-semitismo, pela homofobia, pela xenofobia e tantos outros preconceitos assassinos - que as câmaras de gás e crematórios tenham se tornado tão presentes na paisagem européia quanto as galerias, universidades e salas de concertos que marcaram a civilização européia por centenas de anos. É graças a homens e mulheres que se dispuseram com todas as forças a lutar contra o fascismo, pessoas como Alan Turing, que os horrores do Holocausto e da guerra total tornaram-se parte da história européia e não de seu presente.
Assim, em nome do Governo Britânico, e de todos que vivem em liberdade graças ao trabalho de Alan, estou orgulhoso em dizer: estamos arrependidos, você merecia tanto mais.
Gordon Brown